A meiga voz e o sorriso de Guerline, a haitiana que nos leva a ouvir com o coração


Os corredores da Clínica Scope são frequentemente cobertos de luz. A fonte é o sorriso de Guerline Antenor, haitiana de Porto Príncipe que está no Brasil há oito meses. O português ainda não é fluente, mas pela vontade de se fazer entender, Guerline desperta outros sentidos, faz com que quem a ouça, entenda com o coração.

Aos 26 anos, a haitiana veio primeiro para São Paulo, para depois chegar a Campo Grande. O tempo na Capital é o mesmo nas aulas de português e também à frente da faxina na clínica: três meses foram suficientes para ela conquistar as pessoas ao seu redor

“Eu falo francês e crioulo. Nossa língua oficial é o crioulo”, diz. Por aqui, ela acaba sendo chamada de “Line” e no Haiti, a pronúncia correta seria como “Gueoline”. O primeiro motivo para deixar a vida no Haiti foi a vontade de estudar.

“Eu vou, mas não tenho dinheiro para pagar, então eu venho trabalhar, para depois vou à escola”, diz. Por ora, ela apenas estuda a língua portuguesa na escola para haitianos, no bairro onde vive, Rita Vieira.

“Depois vou fazer Enem para estudar, quero ser técnica em enfermeira”, completa. Desde o Haiti ela é apaixonada por essa profissão porque uma amiga vizinha estudava. A educação no Brasil, segundo ela, é melhor e dá mais oportunidades de estágio e também de emprego para quem já se formou. “Tem prática no hospital e em clínica. No Haiti, não tem emprego”, compara.

Depois que o pai morreu, a caçula de nove irmãos não pode estudar. Então três amigos haitianos a convidaram para se mudar para São Paulo. Foram cinco meses lá, buscando emprego e não encontrando.

“Aqui meu professor de português me ligou para eu vim para Campo Grande, que é melhor e tem escola e trabalho”, recorda. De ônibus, ela veio de mala e cuia para a Capital e em menos de 15 dias, arrumou o emprego de serviços gerais na clínica.

A única saudade do que ficou para trás é da mãe. “Mas eu queria que ela vim para cá. Porque ela gosta do Brasil, todo haitiano gosta, eles veem futebol na televisão e gostam no Brasil, não conhecem, mas gostam”, explica.

O que Guerline mais gosta em Campo Grande é da tranquilidade e da música. “Marília Mendonça, Maiara e Maraísa”, exemplifica. Se ela não fala, ninguém percebe que Guerline não é brasileira, mas se alguém perguntar onde é a recepção 3… “Aí eu falo e dizem: mas você não é brasileira? Acho que é pela pronunciação e eu respondo não, do Haiti e todo mundo acha legal”, brinca.

Se o português é difícil? Guerline responde e pelo que ela diz, a haitiana vai longe. “Não é, quando a pessoa quer estudar, nada é difícil”, ensina.

 

 



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